FALECIMENTO DE JÚLIO JOSÉ FARIA REIS

O músico militar da Banda da Força Aérea, na reserva, Júlio José Faria Reis, de 55 anos de idade (nasceu no Crato a 10/08/60), faleceu inesperadamente em Lisboa, onde residia desde que ingressou na citada banda militar, praticamente desde os 18 anos de idade. Foi no dia 3 de fevereiro que todo o meio musical e a população do Crato foi surpreendida pela nefasta notícia. O Júlio terá tido uma morte semelhante à do seu colega Xico Pandorga (falecido em dezembro de 2009, com 50 anos), ou seja, foi algo fulminante, que ainda está na esfera dos médicos legistas. Certo é que os Reis e os Ouro, famílias extensas do Crato (e de músicos), ficaram órfãs de um dos seus maiores ícones. Também a Filarmónica do Crato, onde o Júlio fez todo o seu percurso inicial na arte musical desde tenra idade, ficou mais pobre de um dos seus que “voaram mais alto”. Iniciou-se nos primeiros anos de presença do maestro João Imperial no Crato, ele que chegou em dezembro de 1970. Quando o afamado saxofonista deixou a sua banda natal para ingressar na Força Aérea era já um músico de grande gabarito. Nesta banda faria carreira ao longo de 30 anos, como sargento, granjeando enorme prestígio pela sua qualidade técnica e pelo perfil cumpridor e de bom companheiro.

O Júlio deixa o seu conjunto cratense “Cruz de Malta” órfão (já o ficara sem o Xico) do seu magistral saxofone. Em Lisboa, ficam também sem a sua mola real os vários grupos onde o Júlio José desenvolvia desde há muitos anos uma intensíssima atividade musical paralela à formação militar. Desde sempre este impressionante músico participou em grupos de baile atuando praticamente todos os fins-de-semana em casamento e batizados e outros eventos. Ultimamente, com a reforma, vinha a atividade musical em grupos de bar. Outra atividade que também desempenhou foi a lecionação do saxofone e formação musical em colégios, escolas e academias, o que se verificava até hoje.

Com toda esta atividade, este famoso músico militar cratense quase não tinha tempo para vir à sua amada terra natal. Inclusivamente, na atual Filarmónica do Crato, tratava-se de um músico pouco conhecido. Apenas os músicos Miguel Baptista e o seu primo, José Manuel Reis Machado, desfrutaram do prazer de tocar a seu lado. Curiosamente, marcou presença no concerto de Nª Srª da Conceição ocorrido no Crato a 7 de dezembro último. Terá sido uma das poucas vezes em que viu a sua banda atuar desde que saiu para Lisboa e demonstrou muito carinho e admiração pela qualidade do concerto. Inclusivamente, manifestou muita admiração pela atuação do pequeno saxofonista, Francisco Cruz Batista, em quem viu tudo do seu percurso inicial de saxofonista.

Outro aspeto pertinente foi o facto de o próprio município do Crato, na pessoa do seu Presidente, José Correia da Luz, desconhecer até há poucos anos a existência do Júlio. Já os outros colegas músicos militares cratenses, Francisco Pedrosa (Xico Pandorga) e em especial o João José Costa (João José “Ervilha”), com quem desenvolveu várias iniciativas, foram cedo descobertos. Logo que teve conhecimento da sua existência, não perdeu a oportunidade de o fazer abrilhantar espetáculos com os seus grupos na sua vila natal. Nessa altura, o Presidente, profundo apreciador musical e intérprete, ficou siderado com a qualidade do Júlio.

Também o seu pai, Júlio Reis, que nos deixou em dezembro de 2012, não estaria a contar encontrar-se com um dos seus filhos tão rapidamente…À família enlutada, em especial à mãe, D. Odete Faria, ao irmão, Domingos (também ele ex-músico da FAP e que hoje vive no Crato), à esposa, Zézinha Ouro, por quem se apaixonou também ao serviço da nossa Banda já que ela foi a segunda rapariga do Crato a tocar na Banda, e aos dois filhos (um deles, creio que o mais velho, também tocava com o pai), bem como a toda a restante família, a Filarmónica do Crato despede-se, com uma vénia, de mais um dos seus, que tão prematuramente nos deixou.

As exéquias fúnebres tiveram lugar no Crato, com todas as honras militares (estandarte nacional e tiros de carabina) na manhã de 7 de fevereiro, sob acompanhamento de muitos ex-colegas (inclusive de Alter) e cratenses. O corpo esteve em câmara ardente no Auditório da Filarmónica do Crato a partir do final do dia 6 de fevereiro. Como não poderia deixar de ser, o estandarte da Filarmónica do Crato acompanhou o féretro até à sua última morada, o cemitério do Crato. A Banda não o acompanhou musicalmente uma vez que está estipulado há muitos anos que só o faz nas exéquias de músicos no ativo. E o Júlio, face à sua intensíssima atividade musical, há mais de 35 anos que não atuava na sua Banda de origem.

Paz à sua alma!

 

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(Júlio Reis, no Crato, com Correia da Luz no acordeão. Vertia música, alimentava-se de música)

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