Pelo terceiro ano consecutivo, na Igreja Matriz, embora sem o ser, devido à interrupção provocada pela pandemia
em 2020, realizou-se mais um concerto da Filarmónica do Crato em homenagem à Padroeira do Crato e de Portugal
– Nossa Senhora da Conceição, dia muito importante para o Crato e para a sua Filarmónica, visto ser uma data
pródiga para lançamento de novos músicos e 2022 não fugiu à regra, assim como 2018, o último ano em que isso
acontecera. Com o número de executantes a crescer, também o público foi muito mais, a que também não é
estranha a boa dinâmica da página de Facebook da Banda que, num ano, viu crescer o seu número de amigos e
seguidores em quase mais mil pessoas, sendo atualmente mais de 2200. Para além do muito público presente, sem
medo do frio habitual, também existiu a inovação da transmissão do concerto via Facebook, o que fez aumentar o
número de espetadores que não deram por mal empregue o tempo, tais foram os comentários no local e
virtualmente. Foi incrível, verificar que 30 minutos antes da hora já se encontravam sentados cerca de 50
espetadores…
Com 45 elementos em palco e as principais autoridades locais e concelhias, direção e associações convidadas, a
Filarmónica surpreendeu logo no primeiro tema – 1492, do compositor Vangelis, que nos deixou este ano, com
arranjo de Amilcar Morais, em que o maestro Humberto Damas, deu a entrada à percussão e baixos, em palco, e
com a restante Banda a surgir da ala sul da Igreja, em marcha, a tocar o tema até junto dos colegas, o que deixava
antever um concerto marcado pelas surpresas. A outra, já mencionada, foi a transmissão para aqueles que não
podendo estar presentes fisicamente, e sendo cratenses, não perdem pitada do que se passa na sua terra natal, e
chegaram a ser mais de 50 em simultâneo…A última, seria a surpresa da Câmara!
Em seguida, o vasto auditório, assistiu a uma estreia, ou melhor, uma reestreia, visto que a Banda tocou este tema
nos anos 50 com o maestro Ferreira, mas seguramente com outro arranjo – 1812 Ouverture, uma das famosas
obras do compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky, com arranjo de Mark Williams, tema que retrata a invasão
francesa de Napoleão à Rússia, que fracassou, e onde em alguns concertos é possível ouvir os tiros de canhão e
morteiro ao vivo. Neste tema, existe uma base em que é possível ouvir os acordes da Marselhesa, de 1789, o hino
oficial do estado francês. A obra correu bastante bem, mas ainda há condições para se melhorar a rapidez em
certos momentos da mesma.
O terceiro tema selecionado pelo maestro, e o critério era estreito, porque havia que respeitar o templo onde o
mesmo se inseria, foi a conhecida Serenata no1 de Franz Shubert, com arranjo de Arnaldo da Fonseca, tema muito
tocado no tempo do maestro Arlindo Gorgulho, há mais de 40 anos atrás. O mesmo foi do agrado do público e
interpretado com enorme cuidado pelos músicos, tal a delicadeza do mesmo.
Seguidamente, foi a vez de relembrar a primeira Ópera Rock mundial, muito tocada pela nossa banda nos anos 80
sob a direção de Edmundo Manaças, também já interpretada neste século com Humberto Damas, num concerto
com antigos músicos. Jesus Cristo Superstar, de Lloyd Weber, com arranjo de Willy Hautvast, trouxe à memória de
muitos, grandes jornadas da nossa Filarmónica. A interpretação do tema correu muito bem e teve na percussão um
dos ícones dessa época, Carlos do Ouro, que retornou à Banda acompanhando a neta Clarinha do Ouro Santos. E
que bem que ele se integra no meio dos miúdos, transmitindo-lhes a mística e ajudando-os na sua organização, um
naipe sempre famoso pela desorganização, nesta e em todas as bandas!
Sempre com muita serenidade Humberto Damas, guiou-nos para mais uma estreia com o tema “Beyond the
Western Sky”, de Ed Huckeby, um tema agradável ao ouvido e onde é possível ouvir vários instrumentos com
apresentações diversificadas.
Entretanto, o público foi brindado com dois temas de filme. O primeiro foi o tema “Pearl Harbour”, de Hans
Zimmer, com arranjo de Frank Bernaerts, de um filme alusivo ao ataque dos japoneses à base americana do Havai,
em Honolulu, que ditaria a entrada dos americanos na segunda guerra mundial e o lançamento das bombas
atómicas em Hiroshima e Nagasaky; o outro tema, também de um famosíssimo filme, de guerra, “Gladiador”, de
Lisa Gerard e Hans Zimmer, com arranjo do mesmo Frank Bernaerts. Ambos os temas foram bem interpretados.
O tema de encerramento, antes da interpretação do Hino da Padroeira, em pé, foi uma obra portuguesa muito do
agrado do maestro e músicos e até já dos novos elementos. Trata-se da obra do promissor Nuno Osório – “Cicles e
Mythes”, muito vendida e tocada lá fora. Trata-se de um tema arrojado e bem tocado pela nossa filarmónica.
Também o nosso público já é um grande apreciador de Cycles e Mytes e dos seus diversos solos, mudanças de
compassos e tonalidades e com muita e importante atividade do setor da percussão, especialmente da bateria e
tímpanos, muito bem interpretados pelos jovens Tomás Dias e Raúl Heitor, respetivamente.
Antes dos dois temas finais, o Presidente da Direção da Filarmónica, Filipe Lopes subiu a palco e chamou ao mesmo
o Monsenhor Paulo Dias e o Sr Presidente da Câmara, que chamaria os dois Vereadores do Executivo Camarário, a
Sra Presidente da Assembleia Municipal e o próprio maestro Humberto Damas. Filipe Lopes agradeceu a presença
do muito público e todo o apoio prestado pelo município à Banda, em especial o seu empenho na concretização do
Projeto Plusband, a decorrer na Escola Ana Maria Ferreira Gordo, numa parceria entre o município e a Filarmónica,
e que tão bons frutos está a começar a dar às fileiras da Banda. O presidente Filipe informou ainda os principais
eventos onde a Filarmónica participou e mencionou que a Filarmónica realizou 92 ensaios ao longo de 2022, o que é
obra, tendo agradecido aos músicos e às famílias.
Numa breve intervenção o Monsenhor Paulo Dias, voltou a regozijar-se por contar com mais um concerto da
Filarmónica do Crato na Igreja Matriz e mostrou abertura para a continuidade dos mesmos neste belo espaço da
vila do Crato, qual sala de espetáculos, que ainda irá receber um outro ainda este ano.
Em seguida, interveio o senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. Joaquim Diogo, que falou do orgulho que tem
na embaixadora do Crato e na visão que teve para a mesma ao apostar no Projeto Plusband, que foi posto em
prática no Agrupamento de Escolas do Crato, ultrapassando todas as metas previstas aquando da sua elaboração e
candidatura comunitária, onde cerca de 200 alunos interpretam instrumentos musicais de sopro nas aulas de
Educação Musical, opção de Música e nas Atividades de Enriquecimento Curricular e estão a transformar a Escola
numa espécie de Academia. Revelou alguns números investidos, destacou o empenho do maestro Humberto Damas
e a qualidade com que está a desempenhar as funções de professor na escola. Por fim, mencionou um aspeto que
correu menos bem na planificação, mas que é um problema feliz…a falta de instrumentos. Apesar de na escola
existirem 37 instrumentos que fazem parte do Kit do Projeto e cada aluno ter a sua boquilha ou bocal na turma
(opção da Câmara que custou mais algumas boas centenas de euros), faltam instrumentos à Banda! É que ao longo
deste segundo ano letivo de funcionamento operacional do Projeto, e com os alunos a começarem a obter
melhores desempenhos, também o gosto pela música se desenvolve de forma proporcional e, muitos deles, por
gosto ou porque os amigos também vão, aparecem na escola de música de Banda, que apesar de deter cerca de 30
instrumentos em reserva, já tem todos distribuídos. Assim, porque o município tem todo o empenho no Projeto, e
não lhe poderia proporcionar apenas os meios, segue-o com atenção, daí ter desde logo colocado uma carrinha ao
dispor da escola de música para transportar os alunos das freguesias, também agora, decidiu apoiar a Filarmónica
concedendo-lhe nessa noite dez novos instrumentos, que virão colmatar as faltas sentidas nos últimos tempos.
Excelente gesto de execução! Para que o Projeto seja um sucesso, o município tem de estar com ele antes, durante
e depois! Na fase do durante, a ação do Executivo tem sido fantástica. Parabéns ao Presidente Diogo pelo sonho
que gizou para a Filarmónica e que, apesar dos entraves da pandemia (os instrumentos estiveram empacotados um
ano) aqui está com muita saúde e recomenda-se.
O Presidente exortou ainda os Presidentes de Junta e aos empresários e mesmo aos privados a apoiarem a
Filarmónica com a dádiva de um instrumento, o que a União de Freguesias já havia feito, com o Presidente Filipe
Lopes a pedir ao executante Paulo Almeida Júnior para mostrar o trombone com que estava a tocar há dois dias…
Curiosamente, nessa mesma noite, um cratense interpelou o Presidente Filipe Lopes anunciando-lhe que andava há
muito tempo para oferecer um instrumento novo à Banda e que irá de imediato fazê-lo! Excelente gesto!
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