A Filarmónica do Crato marcou presença mais um ano na mais antiga festa do seu historial. A sua participação é mencionada num conhecido livro do Prof. Manuel Subtil, valpesense, que em meados da década de oitenta do século XIX dizia qualquer coisa como:” a Banda que abrilhantava a Srª da Luz era a do Crato, quando a havia…”. Na realidade, o citado autor falava com conhecimento de causa, pois era uma das crianças que àquela época corriam para ir receber a banda.
E passados cerca de 140 anos, a festa continua viva e a dar vida. A dar vida a uma pequena localidade do concelho do Crato que teima (e muito bem) em demonstrar vitalidade e espírito de união. Enquanto houver memória e gente, a tradição não se apagará. Esta é uma das poucas festividades que ainda consegue realizar-se no seu próprio dia, ou seja, a 2 de fevereiro, seja fim-de-semana ou um qualquer dia. Este ano, o dia foi a um sábado, o que ajudou a todos. Ninguém precisou de faltar ao trabalho, à escola, enfim, aos vários compromissos. A verdade é que para a Filarmónica do Crato antevêem-se dificuldades a curto/médio prazo. Quando a geração de músicos que agora está a estudar no 10º ano estiver na universidade, não será nada fácil arranjar os elementos suficientes para manter a banda equilibrada e com qualidade para atuar durante todo o dia. E o serviço não é nada fácil…já não se justifica fazer arruada seguida de peditório, é uma “violência” para todos os que participam nestas atividades. Passa-se pela mesma rua mais do que uma vez. E à tarde ainda vem a procissão, com a mesma volta e ainda com ida ao Lar (e bem porque é uma nova centralidade da aldeia). Eventualmente, podiam eliminar a ida até junto da linha férrea. Quando às vezes muita gente lamenta a verba que a Filarmónica do Crato cobra, não tem a noção do que diz. São várias horas a tocar sem grandes paragens, andando alguns quilómetros, toda a gente acaba aquele dia com peso nas pernas. Mas a tradição ainda é o que era e sobrepõe-se.
Este ano, à semelhança dos últimos anos, a Banda conseguiu apresentar-se em boas condições, com cerca de 30 elementos, com muita gente nova e alguns mais experientes.
A Filarmónica voltou a tocar dentro do Lar para deleite dos idosos à hora de almoço. Também não passaram despercebidas as palavras de incentivo aos jovens músicos no arranque do dia por parte do decano Presidente do Lar de Nossa Senhora da Luz, o digníssimo José Subtil (Zé Dias), tendo ainda ressalvado a antiguidade da banda na atuação da Senhora da Luz e a sua condição de associado há cerca de sessenta anos (bem-haja!).
O peditório voltou a correr muito bem e com boa organização. O almoço no Lar, mais uma vez e como sempre, foi excelente e retemperou todos.
Apesar do muito frio, a procissão foi muitíssimo participada. Também esteve melhor organizada, com maior respeito pelo espaço entre o pálio e a Banda.
Após a procissão, como sempre, a Filarmónica do Crato estreou uma marcha para os fiéis que estavam dentro da igreja, desta feita “Águas do Botaréu”, de Amílcar Morais, que tem uma duração de sensivelmente seis minutos e que terá agradado apesar do frio, que em nada ajudou.
O município do Crato cedeu, mais uma vez, o autocarro para a deslocação.