Depois de uns inolvidáveis dias passados pela Filarmónica do Crato na Terceira, em julho de 2017, foi a vez de os ilhéus virem até ao Alentejo para passarem dias intensos, entre 16 e 23 de julho de 2018. Os cerca de 70 açorianos, da freguesia da Ribeirinha, Angra do Heroísmo, chegaram no dia 16, segunda-feira, e foram recebidos por alguns cratenses no aeroporto onde os aguardavam os autocarros do município do Crato.
A chegada à sede da Filarmónica do Crato foi cerca das 14.30h e houve abraços trocados entre muitos que já não se viam há um ano. Não faltou a boa disposição e a música, com vários músicos a interpretarem alguns temas de boas-vindas aos visitantes da União Católica da Serra da Ribeirinha. A música fez-se ao som do acordeão, do bandolim e dos instrumentos da banda. Seguiu-se o almoço e a ida para os aposentos, nos balneários da Piscina Municipal, local onde os visitantes dispunham de boas condições ao nível de casas de banho e balneários. A dormida, foi em beliches e colchões gentilmente cedidos pela GNR. O almoço e o jantar foi servido na Filarmónica com a ajuda de todos. A maioria nunca tinha provado javali, o qual foi caçado pelo músico Feliciano Marques que ofereceu a carne.
No dia seguinte, após o pequeno-almoço servido na sede da banda, as duas filarmónicas seguiram para o Largo do Município a fim de prestarem cumprimentos às entidades oficiais. A cerimónia decorreu com normalidade e foi bem visível o gosto do Presidente Joaquim Diogo por receber esta comitiva da Terceira. Seguiu-se um almoço em Flor da Rosa, no restaurante “O Recanto”, onde os visitantes puderam apreciar o cozido da casa, com enchidos de grande qualidade. O almoço foi oferta da União de Freguesias. Entretanto, partiu-se para uma visita aos centros históricos de Castelo de Vide e Marvão, onde foi possível apreciar-se a monumentalidade e a beleza das paisagens naturais. Não faltou uma ida a Espanha, à vizinha Valência de Alcântara, Infelizmente, chegámos a Espanha à hora de fecho das poucas lojas, deu para ver alguma coisa. Ainda assim, foi positivo visto que ouvimos alguns visitantes dizerem que fora a sua primeira vez noutro país. Por fim, o merecido jantar, na banda, servido pelo catering do Bar “Perdidos e Achados”, que constou de carpa frita com molho de poejos, a Açorda Alentejana foi o primeiro prato, sendo confecionada pelas voluntárias da nossa cozinha.
Na quarta-feira, dia 18, visto que os habitantes da Terceira são fanáticos por touradas e gado, foi-lhes proporcionada uma tourada à vara larga na Praça de Touros de Flor da Rosa. A mesma foi possível graças ao esforço do nosso amigo e pai de um executante, António João Felizardo, do Pisão. A Banda da Serra da Ribeirinha abrilhantou a tourada com alguns Pasodobles e alguns dos acompanhantes e muitos locais brincaram na arena. Em seguida, a comitiva foi levada para a Barragem das Nascentes onde se passou o resto do dia e se almoçou, lanchou e jantou em franco convívio em pleno gozo das elevadas condições que os bosques daquela barragem possuem. Agradece-se à Câmara Municipal a cedência do espaço. Não faltou a belíssima sardinha assada. O porco assado no espeto estava divinal e foi oferecido pelo músico cratense João José Costa, que também fez questão de obsequiar os forasteiros. Ainda foi possível provar-se a excelência dos galos assados no forno, uma das especialidades que António João Felizardo costuma apresentar na sua casa no Pisão. Os nossos visitantes ficaram completamente marcados pelas excecionais iguarias que lhes eram dadas a provar. Não faltou a animação com alguns músicos a tocarem.
O dia 19 de julho foi dedicado ao Crato, ou melhor ao conhecimento do património cratense. E se os nossos visitantes já tinham algum conhecimento da grandeza de outrora do Crato e não lhes era desconhecido que a nossa vila está intimamente ligada a D. António Prior do Crato, que reinou durante 3 anos na Terceira, entre 1580 e 1583, aquilo que lhes foi dado a ver e a ouvir, deixou-os completamente siderados quanto à grandeza e à opulência da localidade. Assim sendo, tudo começou com a excelente apresentação da Igreja Matriz apresentada de forma eloquente pelo Sr. Padre Rui. A riqueza e beleza da igreja, os altares, as pinturas, as figuras, enfim, tudo, deixou os visitantes completamente agradecidos e mais ricos. Ainda houve uma breve passagem pela Igreja da Misericórdia. Seguiram-se o Museu Municipal e Museu Padre Belo. No primeiro, puderam conhecer a extrema antiguidade da localidade e quais os primeiros povos que a habitaram assim como os vestígios por si deixados. Não faltou o período da Ordem Militar e o barroco. No Museu Padre Belo, os visitantes puderam apreciar o trabalho de uma vida e a beleza de tanta arte ancestral e religiosa. A visita à Igreja do Convento de Santo António e à Sopa dos Pobres foi outro dos locais onde acorreram com gosto.
Depois do almoço na banda (umas belas migas de batata confecionadas pelo restaurante “A Cascata”) e após algum tempo de descanso, a comitiva seguiu para Aldeia da Mata, por volta das 18h, onde fez uma arruada e foi brindada com um excelente jantar oferecido pela Junta de Freguesia local, que fez questão, mais uma vez, de colaborar com a Filarmónica do Crato ao receber na sua localidade pela segunda vez uma banda açoriana. A primeira foi em 2003, vinda do Pico. Curiosamente, o Presidente da Junta era também Sérgio Calado, a quem a nossa Banda muito agradece, bem como à sua equipa da Junta e restantes pessoas que proporcionaram um repasto inesquecível. Por fim, às 21h, a Banda da União Católica da Serra da Ribeirinha proporcionou um belo concerto ao muito público do Crato e de Aldeia da Mata. Os momentos de troca de oferendas foram marcantes bem como os discursos, em especial do Presidente da Junta, do Presidente da Câmara e dos Presidentes das duas Bandas, Filipe Conceição e António Galante. Tratou-se de uma bela noite e todo o público e músicos saíram encantados com tudo o que se passou e com desejo de repetir estes momentos por mais vezes.
Pela noite dentro continuou a conviver-se na sede da banda. Houve quem aproveitasse para ir conhecer outros locais como explorações agrícolas e de gado, Portalegre, Badajoz, Alter, Anta do Tapadão, Ponte Romana da Ribeira de Seda, Castelo do Crato, miradouros, Biblioteca Municipal (Cadeia), etc.
A sexta-feira foi marcada pelo convívio no Parque Aquático do Crato, um local que deixou “água na boca” aos visitantes. Realmente não existe nada idêntico nas ilhas. Após o almoço na Banda, seguiu-se a visita ao Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa, já muito falado nos dias anteriores e que foi como que “a cereja no topo do bolo”. Os terceirenses ficaram deslumbrados com a grandeza e a qualidade do edifício. E até puderam ir à torre sineira, à pousada, etc. Foi o encerrar da enorme história do local que visitaram e que não lhes passava pela cabeça ser tão rico.
À tarde, as duas bandas seguiram para Nisa onde foram participar no IIº Encontro de Bandas da Sociedade Musical Nisense. Este intercâmbio com a banda local deve-se ao facto do seu Presidente, João Maia, ter acompanhado a nossa Banda como músico na Ribeirinha. E desde lá, ficou a promessa das três filarmónicas se juntarem em alegre convívio. Chegados a Nisa, fomos brindados por uma pequena visita pela zona histórica, que deu para os visitantes perceberem que todo o Alentejo é rico em história e monumentos, daí a enorme procura que vai tendo a nível turístico.
Seguiu-se o excelente repasto nas instalações da SMN e onde foi dada a provar a famosa sopa de feijão local e outras iguarias. Bom convívio, parecia que todos se conheciam há muito tempo (e isso sucede entre cratenses e nisenses). Seguiu-se o momento dos concertos, no jardim, junto ao coreto, com a Filarmónica do Crato a abrir as “hostilidades”, com 45 elementos e a deixar boa impressão junto do muito público. Depois, a Banda da Serra da Ribeirinha, quais marinheiros, por fardarem de branco, que realizou um concerto muito bem conseguido sendo que o seu naipe de flautas deixou o público bastante encantado com a peça que interpretou a solo.
Por fim, a Sociedade Musical Nisense, superiormente dirigida pelo maestro António Charrinho, tocou de forma exemplar todo um conjunto de músicas por si compostas ou arranjadas. Não faltaram as entidades: Câmara, Junta de Freguesia, as direções das 3 bandas. O encontro de bandas serviu para homenagear dois executantes nisenses que passam menos bem de saúde. Um grande bem-haja à Banda de Nisa pelo convívio e refeição das 3 bandas e acompanhantes, especialmente ao Maia e sua grande equipa, todos os músicos trabalhavam…
Na manhã de sábado, por entre piscina e passeios em pequenos grupos, decorreu um jogo de futebol entre as duas bandas no estádio municipal. A equipa do Crato era bastante jovem, apenas o Vice-Presidente António Fernandes e o músico Miguel Baptista destoaram. Na equipa da Serra da Ribeirinha viu-se um misto de jovens e adultos, até o Presidente da Direção jogou e marcou o golo do empate. O calor foi muito e o jogo até foi atrativo. A equipa da casa adiantou-se no marcador depois de várias oportunidades e ganhava ao intervalo. Uma entrada forte da Riberinha na segunda parte haveria de levar ao empate. De imediato, os cratenses regiram (apenas com 12) e adiantaram-se no marcador. Perto do final, António Galante protagonizou uma jogada de génio e fez o resultado final (2-2) visto que o jogo acabou logo a seguir até porque o resultado estava justo e bom para ambas as partes. Enfim, foi mais um momento de convívio em que foi possível dar a conhecer mais um excelente espaço da nossa localidade/concelho.
Seguiu-se o justo almoço na Banda o qual constou de sopas de sarapatel e ensopado de borrego confecionado pela nossa equipa das refeições. Ao final da tarde, e à semelhança de 2003, a comitiva partiu para Gáfete onde fez uma arruada de cumprimentos, jantou na piscina local, a expensas da Junta de Freguesia de Gáfete e realizou mais um ótimo concerto no palco da piscina para muito público e entidades oficiais, entre eles, o Presidente da Câmara e o Vice-Presidente, bem como a Presidente da Assembleia Municipal. Tratou-se de mais uma grande jornada musical e de boas práticas de bem receber, típicas do Alentejo e em geral de todo o país. Bem-haja José Garcia e equipa!
E o final do intercâmbio aproximava-se. Começava a haver no ar sensações de tristeza pela despedida próxima, sensações de dever cumprido por tudo ter corrido bem, sensações de desespero por querer ficar mais tempo e sensações de alívio (para os mais cansados mas só pelo cansaço) porque o trabalho árduo e a exigência de preparar tudo ao pormenor estava quase a acabar. Enfim, foram várias as sensações, mas o mais importante foi o intercâmbio, o voltar a unir dois lados e a amizade que sempre imperou. Era domingo, 22 de julho, e após o pequeno-almoço, a comitiva seguiu para cumprir três arruadas nas outras localidades da União de Freguesias. Assim, Filarmónica do Crato e União Católica da Serra da Ribeirinha, arruando misturadas ao som da bela marcha “Alto Alentejo”, que a ouviram no ano transato e lhes agradou, deslocaram-se no autocarro municipal até Vale do Peso. Seguiu-se Flor da Rosa e terminou-se no Pisão. Em cada uma das localidades não faltou público a receber as duas bandas. No Pisão, aguardava-nos uma mesa com produtos de altíssima qualidade. Desta vez, o casal António João Felizardo e Adelaide Carona desforraram-se! No início até queriam a comitiva um dia inteiro na localidade, mas foi o possível. O almoço, viria a sofrer um pouco com este beberete uma vez que nem todos traziam apetite para a excelente favada e não menos boa feijoada. Os nossos convidados apreciaram fortemente as favas, apesar de conhecerem o prato, disseram que nunca comeram favas tão boas. A feijoada também estava divinal, à semelhança da que se fornece na segunda-feira de Páscoa e feitas pela mesma cozinheira.
A tarde foi de descanso e o jantar foi oferecido pelo município aos elementos das duas bandas. De seguida, as bandas dirigiram-se para a zona do coreto onde os aguardava um público numeroso (que alívio! Havia o receio do povo do Crato ser madrasto como já tem sido para com a sua Banda…) respondendo positivamente por apreço à Banda local e em especial aos convidados. A noite estava ótima, o jardim e esplanadas estavam cheios e as duas Bandas não se fizeram rogadas e apresentaram-se ao melhor nível. Foram dois concertos de muito bom nível. A Filarmónica do Crato apresentou-se com 46 músicos. A Banda da Serra da Ribeirinha foi muito ovacionada em especial aquando do tema das três flautas, aplaudido em pé por todo o público. Os discursos foram efusivos e a troca de presentes foi tocante. Registe-se o excelente quadro oferecido à União Católica, superiormente executado pela artística plástica cratense, Susana Perpétua. E a noite haveria de acabar um pouco mais tarde no auditório da banda com muita gente a fazer as necessárias despedidas.
A segunda-feira chegou, o último pequeno-almoço, que como em todos os dias anteriores foi servido na nossa sede e confecionado pela nossa equipa dos pequenos-almoços, com as iguarias locais.
A comitiva despediu-se de vários cratenses que se dirigiram até à banda antes das 10 da manhã. Outros, despediram-se junto às Piscinas onde a comitiva ainda foi buscar as malas. E outros (muitos, músicos e diretores) seguiram com os nossos amigos até Lisboa num dos autocarros. Julgo que a despedida não foi tão efusiva como em 2017, mas o Aeroporto das Lajes fica a poucos quilómetros da Ribeirinha e muita gente foi até lá e o Aeroporto Humberto Delgado fica a 180Km e muitos não puderam lá estar. Ainda assim, os que foram fizeram por isso!
Os visitantes foram sempre transportados nos autocarros municipais e, por vezes, em autocarros alugados à Transcrato, pelo município.
A Filarmónica do Crato agradece aos elementos açorianos por terem tido sempre boa disposição, mesmo quando algo possa não ter corrido tão bem quanto o desejado. Outro aspeto que pesou foi o percurso de 1200 metros que fizeram repetidas vezes entre a Banda e os alojamentos na Piscina, sempre com boa vontade e boa disposição. Obrigado pela amizade, companheirismo e boa música.
Para os elementos de cá, há muita gente para ser destacada, mas o melhor nestas situações é não particularizar. É verdade que houve vários elementos imprescindíveis desde todos os diretores, músicos, maestro, esposas e mães de diretores ou músicos, tanta gente, que o mais importante e melhor é valorizar o coletivo. E a Filarmónica do Crato e toda a sua família transcendeu-se e mostrou a si própria que desde que se queira, tudo é possível. Certamente que não recebemos os nossos amigos açorianos, com o calor duma grande massa humana, como eles o fizeram, mas no cômputo geral aproximámo-nos da valorosa receção de 2017. Uma nota mais, a Filarmónica do Crato procurou comprar os produtos necessários para este grandioso intercâmbio um pouco por todos os estabelecimentos comerciais do Crato, bem como nos vários restaurantes locais, que não são muitos.
Uma última palavra vai para o nosso município e na pessoa do presidente Joaquim Diogo (muito presente) e seus pares, um grande muito, muito obrigado. Sem o importante apoio institucional não seria possível este intercâmbio que deu a conhecer o Crato e a sua rica história bem como as suas gentes a um grupo fenomenal de terceirenses. Também as Juntas de Freguesia, em especial a União de Freguesias do Crato e as de Gáfete e Aldeia da Mata, vai mais uma vez um bem-haja pela bela receção que fizeram aos visitantes, o que engrandece e de que maneira o concelho do Crato e a nossa Filarmónica. Somos poucos, mas bons! E temos de continuar a acreditar nas nossas potencialidades, que são muitas. Ao mostrarmos o que de melhor temos em património, história, natureza, gastronomia e gentes, provamos a nós próprios que temos muito para oferecer.
Viva a Banda da Serra da Ribeirinha!
Viva a Filarmónica do Crato!
Viva o concelho do Crato!
Vivam a Terceira e os Açores!
Viva Portugal!