A Filarmónica do Crato é a única instituição que marcou presença em todas as edições do, cada vez mais mediático, Festival do Crato ou Feira de Artesanato e Gastronomia. E, tal como o Festival tem evoluído, também a Banda da terra se mostrou em grande nível e em evolução. Ao final da tarde de 27 de agosto eram algumas centenas as pessoas que se juntaram para assistir ao arranque de mais um grandioso Festival do Crato, o número 35, no Rossio, perto do coreto de 1931. A Banda também ia grandiosa, com 47 elementos e muito bem perfilada e equilibrada. Não nos lembramos de tão boa sonoridade no momento da abertura do Festival, de facto, a Filarmónica do Crato interpretou os dois temas que levou para o evento de uma forma extraordinária. Ouviam-se os pianos com clareza e sem exagero e os fortes foram retumbantes, com um poder exuberante dos metais, em especial o vindo do naipe dos trombones e baixos. As marchas ouvidas pelo público e muitas entidades oficiais e convidados, cujo elemento principal era o Sr. Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira, intitulavam-se “Roberto Nunes” e “Alto Alentejo”. Em especial, a última deixou encantado o público de Lisboa há quase 80 anos aquando do desfile das Comemorações do 8º centenário da Nação e 3º Centenário da Restauração da Independência que ocorreu em junho de 1940, já então tocada pela Banda Municipal Cratense, o seu nome à data após a sua reativação com Botto Aleixo em 1931.
Cerca das 20.30h, a Filarmónica do Crato subiu ao palco dois do Festival brindando o muito público que se sentou para a ouvir junto ao coreto e àquele que passava e ouvia um pouco e seguia festival adentro. Tratou-se de mais um concerto de elevada qualidade, à semelhança daqueles que têm vindo a acontecer nos últimos anos. Com um reportório diversificado, verificaram-se boas prestações a solo e a sonoridade dos metais nas duas marchas interpretadas (Águas do Botaréu e Infantes do 6), em especial na segunda e no tema português “Cicles e Mythes”, revelaram uma sonoridade sinfónica. Também não faltou um tema português, “Uma noite em Lisboa”, de cariz popular, com os temas celebrizados por Amália a puxarem pelo vibrante público. A percussão da Banda, muito bem chefiada por Miguel Dias, revelou muita juventude e potencial. É pena não conseguirmos juntar este número de músicos durante todo o ano. Enfim, mais uma participação digna da embaixatriz do Crato no seu principal festejo anual.
No final do concerto a Filarmónica jantou no restaurante oficial do certame a convite do município onde o convívio foi muito salutar e o serviço muito bom. Refira-se que nas proximidades da data de abertura do festival, os músicos receberam, com agrado, a notícia de que iriam ser premiados com uma pulseira dos 5 dias, oferta da edilidade. Não é por gestos destes que os elementos da Banda são executantes na mesma, mas que ajudam, ajudam…porém seria conveniente saberem destas decisões com maior antecedência de forma a não comprarem os passes.
A Filarmónica do Crato elevou-se nos últimos 40 anos a um padrão de qualidade incomensurável. Mas não pode viver à custa do passado e do presente, o futuro está já ali e não se afigura fácil. A verdade é que a sua escola de música começa a ter falta de alunos e é urgente a Banda, a Direção, o maestro, os sócios, o município, e a população de todo o concelho, unirem esforços no sentido de “salvar” uma instituição que já sobreviveu a três séculos – nasceu em 1844. É imperioso a entrada de sangue novo, em especial crianças, mas também será bem-vindo o regresso de antigos músicos, que os há em quantidade e qualidade no Crato, ou a entrada de pessoas adultas, mesmo da Universidade Sénior.