A Filarmónica do Crato celebrou mais uma vez em grande o dia da Padroeira do Crato e de Portugal. Já há alguns anos que esta jornada não era tão marcante. Uma das razões foi o concerto ter sido realizado no próprio dia, entre outras, como as homenagens que se fizeram e o novo rumo dado às celebrações religiosas, o elevado número de novos músicos, o facto de ser fim-de-semana comprido, etc.
Como habitual, o dia começa logo pela manhã para os músicos, direção e maestro da Filarmónica do Crato com a arruada por algumas artérias do Crato. Fez-se a habitual passagem por casa do grande amigo da Banda, já desaparecido, Alexandrino das Neves Carvalho. Durante cerca de 4 décadas esta casa abria as suas portas aos músicos, era paragem habitual para descanso e recarga de energias, mas acima de tudo, para convívio e amizade. Recebeu-nos a sua esposa, D. Narcisa Damas, algo debilitada mas orgulhosa da banda a honrar a si e ao seu marido, ela que é tia do nosso maestro Humberto Damas e irmã do saudoso músico de Requinta, Miguel Damas, avô do maestro. A Direção e músicos fizeram ainda questão de se deslocar ao Bairro da Tapada da Câmara a homenagear o seu antigo diretor, falecido há pouco tempo, Mário Antão. Também já é tradição abrilhantar o Hino de Nossa Senhora da Conceição junto dos utentes da Unidade de Grandes Dependentes da Santa Casa da Misericórdia, no antigo Hospital do Crato, e confraternizar um pouco com aqueles que já guardam muitas memórias de melhores dias e a quem a visita da Filarmónica lhes dá um brilho nos olhos e um conforto à alma. O mesmo sucedeu depois, no Lar de Nossa Senhora da Conceição. A arruada matinal terminou com a homenagem à porta de mais dois elementos da banda desaparecidos nos últimos tempos, também eles diretores, Joaquim Morgado e Isidoro Aires, e em que as suas esposas agradeceram o facto de a Banda os perpetuar. Pelo meio, uma visita de alguns músicos ao antigo executante Fernando Carvalho, acamado mas muito lúcido, que apenas só já conhece alguns dos músicos mais velhos mas a quem a Banda não esquece pelos muitos anos de dedicação. Refira-se que a banda ia muito bem representada em número de elementos, eram perto de 40.
Pela tarde, verificou-se a Procissão de Nª Senhora da Conceição, com ameaça de chuva, mas a poder fazer-se na íntegra. Curiosamente, nos anos de 1976 a 78 a procissão foi sempre dentro da Igreja, nessa altura o tempo era mais constante e não havia seca em dezembro. A cerimónia foi das mais concorridas dos últimos anos. A mesma estava a perder fulgor de ano para ano e parece querer voltar a recuperar, pelo menos há novos ventos e novas ideias e a paragem junto à Câmara Municipal, a vinda dos estandartes de todas as paróquias do concelho bem como de todas as Juntas de Freguesia e IPSS assim com a comemoração do Foral do Crato e o embelezamento da Praça do Município, são melhorias a considerar. Na procissão a Filarmónica do Crato apresentou-se com mais de 40 elementos e com muita dignidade.
À noite, o concerto anual de N. Srª da Conceição teve casa cheia e desta vez teremos de tirar o chapéu à comunidade, que foi de propósito ao Auditório José Joaquim Lopes para aplaudir a dar força à velhinha Filarmónica do Crato. O concerto foi de boa qualidade, já houve melhores, mas ainda assim foi do agrado de todos os presentes. A Banda apresentou-se com 46 figuras em palco e os temas tocados foram diversificados, alguns deles já conhecidos, outros em estreia. O nível de execução de algumas peças era médio/elevado. O mesmo terminou com o Hino da Padroeira com músicos e público todo de pé. Antes, a atuação da Banda terminara em apoteose com os dois jovens percussionistas João Baptista e Raúl Motaco com a sua interpretação a solo (o instrumento era uma chávena de chá) no tema “High Tea”. A Direção da Banda salientou e apresentou os seguintes elementos que ao longo do ano deram entrada nas fileiras da banda: Andreia Guterres, em saxofone alto, José Belo, em clarinete, Pedro Severino, clarinete, Isabel Silva, clarinete, Beatriz Martinho, flauta, Leonardo Monteiro, percussão, João Baptista, percussão, Mateus Rodrigues, saxofone-alto, Raúl Motaco, percussão e Tomás Dias, percussão. Não faltou também um agradecimento a alguns músicos que ultimamente fazem questão de integrar praticamente os quadros da Banda e que marcaram presença neste concerto, nomeadamente: Ana Travanca e Luís Brasão, casal de Elvas, ele saxofone e ela clarinete; Carlos, clarinete, namorado de uma das flautistas da banda; Leonardo Almeida, de Alegrete, trompete; Lino Facas e Ricardo Lopes, ambos da Euterpe, bombardino e tuba respetivamente; e Francisco de Jesus, bombardino, maestro da BUA.
A Direção da Banda decidiu ainda (e muito bem), homenagear o maestro Humberto Damas que neste dia fazia 30 anos de Banda e Carlos Alberto Girão, o mais velho em palco, com 75 anos, que fez 68 anos ao serviço da música, muitos deles no Crato e outros tantos em Lisboa ao serviço da Banda da GNR e da Orquestra da Gulbenkian, entre outras. Em especial esta última homenagem, foi muito sentida pelos músicos, pelo público e, claro, pelo homenageado, Carlos Alberto, que foi apanhado de surpresa, e que com a sua modéstia desde sempre reconhecida, se mostrou muito emocionado pelo acontecimento. Palavras mais não há para tanto que este Senhor já fez pela música nacional e continuará a fazer na banda da sua terra, o Crato. Ele que chegou a ser maestro num ou outro serviço. Bem-haja, Carlos! Parabéns Humberto, continua!
A Direção, na pessoa do seu Presidente, Filipe Lopes, pediu ainda uma salva de palmas de todo o público ao antigo Presidente da Câmara Municipal do Crato, grande amigo da Banda e sempre presente nos seus concertos, António José Leitão, pelo relevantíssimo papel que teve para que a Banda deixasse de andar de sala em sala e passasse a dispor de uma sede própria e um auditório. Esta homenagem foi do agrado de todos os presentes, mas certamente que faltará ainda algo mais concreto. Por fim, houve um singelo discurso do novo Presidente da Câmara Municipal do Crato, Dr. Joaquim Diogo, jovem cratense, que se mostrou disponível para continuar a apoiar a Banda como até aqui todos os Presidentes o têm feito. E concretizou as suas palavras com a oferta de uma nova tuba Yamaha ao jovem músico Tomás Santos, trata-se de um instrumento que quase nenhuma banda consegue comprar pois estamos a falar de valores na casa dos seis mil euros. Para além do muito público e familiares dos músicos, marcaram presença praticamente todas as autoridades do concelho, desde Vereadores a Presidentes de Junta de Freguesia, sem esquecer a nova Presidente da Assembleia Municipal do Crato, a também cratense Sandra Cardoso, a segunda mulher a presidir àquele órgão deliberativo. Refira-se que tanto Joaquim Diogo como Sandra Cardoso já tinham ligações afetivas à Banda pelo facto de terem irmãos que já foram executantes da Filarmónica do Crato e ambos de muito bom nível (Ana Sofia Diogo, flauta e João Cardoso, trombone). A Federação de Bandas de Portalegre marcou presença através do Vogal da Direção, João Maia, Presidente da Sociedade Musical Nisense e o Inatel fez-se representar pelo gestor da Loja de Portalegre, o Sr. João Carlos Guedelha.
Na noite de 15 de dezembro um grupo de executantes da Filarmónica, alunos da EBI do Crato, participou na festa de natal do Agrupamento interpretando um tema de Jacob de Haan, “Pasadena”. Na impossibilidade de serem dirigidos pelo maestro Humberto Damas, recorreram ao colega Miguel Baptista, que se prestou a dirigir o grupo para que não deixassem de atuar na festa da sua escola.