FILARMÓNICA DO CRATO EM INTERCÂMBIO NOS AÇORES – SERRA DA RIBEIRINHA, TERCEIRA – 10 A 17 DE JULHO DE 2017

A Filarmónica do Crato viveu dias memoráveis na Terceira. Depois de ter estado na ilha do Pico há 13 anos (agosto de 2004), o grupo do Crato deslocou-se à ilha Terceira, em intercâmbio com a Sociedade Filarmónica União Católica da Serra da Ribeirinha, localidade a cerca de 5 quilómetros da bela cidade de Angra do Heroísmo. A deslocação decorreu entre 10 e 17 de julho e a comitiva foi composta por 65 pessoas, entre eles 45 músicos, 5 diretores e o maestro e os restantes eram acompanhantes visto que a Banda é composta por muita gente jovem e houve necessidade de os mesmos se fazerem acompanhar de um familiar adulto. Por incrível que pareça, da comitiva de 2004, apenas resistem 5 elementos: o maestro Humberto Damas e os músicos Miguel e Francisco Baptista e Mário Narciso, o outro elemento, José Belo, agora músico e secretário da Banda, já era diretor nessa época (secretário da Assembleia).

Este intercâmbio foi preparado em tempo recorde, o que trouxe alguns problemas à Direção e músicos visto que apenas no final de Abril nos chegou o convite. A verdade, é que a Banda da Serra da Ribeirinha tinha tudo preparado há vários meses e a banda convidada, do centro do país, informou que não poderia cumprir o combinado. Daí para a frente a Direção da Banda açoriana desenvolveu uma maratona de contactos com bandas do continente até que, depois dos colegas de Redondo darem o contacto do Presidente da Federação de Bandas de Portalegre, Miguel Baptista, este lançou o repto a Filipe Belo e em poucas horas ou dias, o Crato disse presente, resolvendo um enorme problema à banda terceirense. E começou uma aventura muito trabalhosa da direção da Filarmónica do Crato e do maestro e músicos ao prepararem tudo em dois meses. Foi uma maratona e um rol de problemas resolvidos. Infelizmente, um ou outro músico não pôde seguir com a Banda e foi necessário recorrer a outros de fora do Crato.

Assim sendo, o grupo reuniu-se na madrugada de 10 de julho na sede da banda e lá seguiu para o aeroporto cerca da uma da manhã. A viagem aérea foi perto das 8 da manhã, em avião da TAP, via Fundação INATEL, que muito trabalhou na sua sede em Portalegre para que esta viagem decorresse bem. Para muitos, foi o batismo de voo mas eram poucos os que estavam apreensivos. Depois da largada, e lá no alto, tudo ficou mais calmo, mas muitos só ficaram des-

cansados após a aterragem na base das Lages, perto das 10 horas, uma a menos na Terceira. E foi aí que tudo começou…Logo pela receção todos ficaram com a sensação do que iriam viver. As boas vindas tiveram um staff de cerca de uma dezena de carrinhas e uma camioneta para as malas e seguimos de imediato por um circuito de belas paisagens de rara beleza paisagística no interior da ilha passando (Serra do Cume) por vários miradouros. A chegada à Ribeirinha, em especial à Serra, foi ainda pela manhã e aguardava-nos um bom grupo de músicos, que nos recebeu de imediato com a inevitável música, à qual começaram a responder vários músicos da nossa banda, à medida que conseguiam encontrar os seus instrumentos que vinham no meio de muitas malas. E a amizade e união começou a imperar desde cedo.

Refira-se que durante toda a estadia a Banda da Ribeirinha e os seus elementos tiveram sempre a preocupação de que os cratenses estivessem bem e que toda a gente disfrutasse daqueles dias o melhor possível. E assim foi. Até mesmo os habitantes da localidade, mesmo o de lá de baixo (porque havia rivalidade e até mesmo outra banda na mesma localidade), interpelavam os continentais para saberem se estavam a gostar e se estava tudo a correr bem. Tudo foi feito para nos proporcionar dias felizes. O grupo de pessoas responsável pelos pequenos-almoços e refeições assim como os condutores de carrinhas e acompanhantes e os funcionários do bar da banda eram imensos e foram extraordinários, alguns mal dormiam (em especial as senhoras da cozinha, comandadas pela esposa do Presidente da Direção, Luciana Galante, quem fez o contacto inicial). Os alojamentos foram bastante satisfatórios e os cerca de 40 homens ficaram no salão da sede da banda e as mulheres no palco. E tudo correu bem e a logística dos banhos e outras atividades nas wc esteve sempre bem assegurado.

Durante estes dias, não faltaram as festas, os terceirenses dizem com vaidade que os Açores têm 8 ilhas e um Parque de Diversões, que é a Terceira. Verdade seja dita, durante seis meses, todos os dias há uma romaria, um baile ou arraial ou uma tourada na ilha. Integrados nas festas da Ribeirinha não faltaram as marchas de S. João, por duas vezes, com todos os participantes vestidos a rigor e algumas até vinham de Angra (uma delas era da mãe do futebolista do Benfica, Eliseu). Também não faltaram os bailes (houve o do Leite do Bodo após a procissão em honra de Santo Antão) e concertos (um na Serra da Ribeirinha e outro em Angra do Heroísmo, junto ao edifício da Câmara Municipal, que pode ser visto no facebook na íntegra e que foi de enorme qualidade. Houve também as participações religiosas com uma procissão com 3 bandas (em honra do Padroeiro da freguesia, São Pedro) e algumas atividades dedicadas aos touros, desde uma tourada antecedida de comes e bebes para toda a população no centro (interior) da ilha, ou melhor, no tentadeiro da Casa Agrícola José Albino Fernandes e visita aos bois a pastar no campo em locais de difícil acesso , uma tourada à corda na localidade, uma largada de bois pelas ruas e uma curiosa largada de carneiros, que foi do agrado de todos.

Houve um dia dedicado aos cumprimentos a todas as entidades da localidade tendo a Filarmónica do Crato sido muito bem recebida e sempre com comidas e bebidas (beberetes), em especial no Grupo Folclórico e Etnográfico da Ribeirinha Recordar e Conhecer, que tinha um museu fantástico e na banda vizinha, Sociedade Filarmónica Recreio dos Lavradores da Ribeirinha, que também já fez um intercâmbio com a nossa congénere de Gavião. Também se visitou o Grupo Desportivo Boavista, Clube os Lobos e a Junta de Freguesia.

O passeio por Angra do Heroísmo e pela sua monumentalidade foi maravilhoso. Ficámos a saber imenso sobre a história da localidade e mesmo do país. Trata-se de uma cidade património da humanidade com todo o merecimento. O património edificado aliado ao património natural e aos lindos e bem tratados jardins deixou todos encantados.

Os museus, o palácio dos Capitães generais, a história da perda da independência para a Espanha e a intervenção do “nosso” D. António Prior do Crato, o papel de Angra nas lutas liberais no século XIX, levou a que a cidade fosse por duas vezes capital do reino. A sua localização, defendida pelo istmo do Monte Brasil (com vistas espetaculares para a cidade, uma fortaleza que ainda é quartel do exército e que visitámos e uma cratera de vulcão espantosa com vegetação nativa) proporcionava a que todas as naus e caravelas do Brasil e da Índia ali aportassem, abastecessem e por vezes, trocassem de barcos e tripulantes. Refira-se que na visita à Câmara Municipal, momentos antes do concerto noturno a meio da semana, o Presidente da edilidade sugeriu uma geminação Angra/Crato pela razão de termos em comum D. António Prior do Crato, que ainda reinou em 1580 e mais alguns anos na Terceira.

Houve ainda um passeio junto ao litoral da ilha por vários pontos de interesse e miradouros onde foi possível ver espaços lindíssimos e vistas maravilhosas, com pequenas praias de areia, rochas ou apenas com pranchas. E os mais jovens não perderam a hipótese de se banharem e a água era apetecível, muito limpa e mais salgada. Esse passeio culminou na outra cidade e concelho da ilha, a Praia da Vitória, local onde se fez praia na areia escura.

Não faltaram os piqueniques em passeio e as visitas ao interior da ilha, com locais do melhor que há no mundo. Eram caldeias de vulcão enormes, rodeadas de vegetação esplendorosa e rara, original e com as vacas leiteiras e o gado bravo aqui e ali a pintalgarem a paisagem. A visita ao Algar do Carvão, gruta vulcânica, única do mundo, com longas escadarias até um pequeno lago no fundo, resultante de uma explosão vulcânica que deixou um buraco no cimo da terra e galerias até muitos metros de profundidade, foi algo de transcendente que deixou a gruta do Natal bem mais abaixo na escala da beleza. Refira-se que ninguém pagou entradas (apenas os acompanhantes), foi a Filarmónica do Crato quem assumiu a despesa.

Outro momento interessante prendeu-se com a visita a adegas, museus de artes e ofícios e de como era a vida rural há algumas décadas atrás (Quinta do Martelo, adega em Biscoitos). Houve ainda espaço para banhos na praia dos Biscoitos (localidade onde eram fabricados os biscoitos para os navegadores levarem como único alimento muitas vezes nas naus e caravelas), espaço muito aprazível e que mesmo com alguma chuva à mistura, que nem atrapalhava, permitiu a muitos um retemperador banho de praia recolhida, ou seja, no meio de pedras. Esta aldeia é uma das 7 finalistas das aldeias de Portugal. O monte de Santa Bárbara, ponto mais alto da ilha com 1021m, permitiu a todos terem a noção da grandeza da ilha, que tem 402,2 Km2, com 29 Km de comprimento e 18 de largura perfazendo um perímetro de cerca de 90 Km. Deste local, foi possível avistarmos as vizinhas ilhas de S. Jorge, Pico e Graciosa, apenas não se via o Faial porque era tapado pelo Pico.  Curiosamente, o concelho do Crato tem 398,07 Km2, quase o tamanho da Terceira.

Outro passeio do agrado de todos foi uma volta de barco de pouco mais de uma hora, a preço especial, ao qual aderiu quase toda a comitiva e que consistiu em sair do porto de Angra do Heroísmo até ao ilhéu das Cabras, que se separou em dois, que se avistava da Ribeirinha embora a localidade não fosse mesmo junto ao mar devido a altura da costa nessa zona. Curiosamente, os ilhéus pertencem a uma família da Ribeirinha, que até possui uma jovem na banda a tocar saxofone soprano. Não faltaram os banhos em águas muito profundas, que deixaram todos os corajosos e corajosas bastante satisfeitos visto que a água era extremamente límpida e estava a uma temperatura muito agradável, cerca de 23º. A viagem foi feita em duas vezes, ou seja, houve necessidade de fazer 2 grupos.

Ainda no passeio pelo interior da ilha, foi-nos dado a ver uma zona de furnas – Furnas do Enxofre, em que se via o fumo vulcânico a sair da terra e se sentia o calor da mesma. Este local era fascinante também pela vegetação natural envolvente.

Foi também possível visitarmos fábricas de queijo, provar o belo alimento das ilhas açorianas e a visita à Nova Açores, grande fábrica de carnes, iogurtes e demais produtos (Nova Açores), que foi do agrado de todos até porque envia muitos dos seus melhores produtos para o Continente e estrangeiro.

A nível gastronómico, os nossos anfitriões tudo fizeram para nos agradar. O leite era de excelente qualidade, produção do presidente da banda, a manteiga, ao contrário do Pico, já era de fábrica, o peixe voltou a ser de excelente qualidade e a carne de vaca era de elevado valor. Não faltou a chanfana, as sopas do Espírito Santo e o cozido. A fruta, em especial as bananas locais, eram pequenas, mas de um sabor e doçura únicos. Enfim, os doces, as mesas postas e cheias, os “pica, pica”, os “mata-bicho”, a cerveja, o vinho, enfim, tudo o que nos era dado a provar, mesmo o marisco com os caranguejos, lapas, etc., era de muita qualidade. Nada nos faltou.

Os Açores são lindos, de uma natureza real e intacta, com paisagens deslumbrantes e do melhor que há no mundo, que começam a ser cada vez mais conhecidos pelos turistas desde que as companhias “low-cost” puderam aterrar nos aeroportos locais. O edificado também é muito interessante e não há muitos atropelos à paisagem, no entanto, o que as ilhas têm de melhor, são as pessoas. O açoriano é autêntico, honesto, amigo, que gosta de receber bem e que tudo faz para tal. É de uma generosidade infinita…

Deixamos um enorme obrigado ao senhor António Galante, Presidente da Banda da Ribeirinha, que nunca descansou, a quem dissemos que por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher, ao que ele respondeu: “duas”. E é verdade, a filha do casal Galante, a promissora flautinista da banda, Lénia Galante, também foi inexcedível e uma extensão dos pais. Um bem-haja a todos os músicos da Ribeirinha, às senhoras e senhores da cozinha, ao maestro e a todos os habitantes da Ribeirinha e da Serra da Ribeirinha pelo prazer que foi termos contactado com eles e conhecido locais deslumbrantes vivendo momentos de muita amizade e união.

Entre os jovens das duas bandas e não só, também entre os mais velhos, imperou a amizade e companheirismo e uma convivência muito sã e autêntica. A estas palavras, não são alheios os rostos e os semblantes no momento da partida e da despedida, tanto na Ribeirinha como nas Lages. Houve muito abraço forte e lágrimas, sinónimo de tudo o que atrás foi dito.

No que respeita à Filarmónica do Crato, estão todos de parabéns, desde a Direção, que trabalhou de forma profissional e exaustiva, o maestro, que preparou a banda da melhor forma tendo deixado uma impressão muito boa nos Açores, tanto na Ribeirinha (procissões, arruadas, touradas e concerto) como em Angra e, aos músicos que se comportaram sempre bem e fizeram uma boa camaradagem entre as duas bandas, muitos deles tiveram de alterar férias e outras questões da vida para poderem comparecer a tão importante deslocação. Este tipo de passeios, mesmo com trabalho/atuações pelo meio e muitas visitas, é fundamental para cimentar as associações, sejam bandas ou outro tipo de grupos culturais ou desportivos. Muitos dias juntos, ajudam a que nos conheçamos melhor e a fortalecer a amizade e o espírito de pertença. E isso foi sobejamente alcançado mais uma vez. De tempos a tempos é fundamental um evento desta natureza.

Para esta missão, a Filarmónica do Crato teve a ajuda de alguns músicos exteriores à nossa banda de forma a colmatarem algumas lacunas ou faltas de músicos das nossas fileiras. Assim sendo, tivemos a ajuda de dois jovens na percussão: o Bernardo Faustino, de Nisa e o seu amigo e colega na Escola Profissional da Covilhã, o Paulo Estrela, de Manteigas, mas da outra banda (a Velha), não da Nova com quem a Filarmónica do Crato já fez pelo menos mais de meia dúzia de intercâmbios. Estes jovens foram fantásticos e fizeram uma enorme camaradagem. Também o Presidente da Banda de Nisa, João Maia, foi dar uma ajuda nos trompetes visto que o cratense António Borrego teve impedimentos de última hora na Banda da Força Aérea. Outro elemento, que vem tocando há algum tempo na nossa banda e que até já pode ser considerado dos nossos quadros trata-se do saxofonista Luís Brazão, de Elvas, enfermeiro, que conseguiu à última hora férias para se juntar a nós. Outro músico que já vem tocando há muitos anos na nossa banda e que nos auxiliou foi o maestro da banda de Castelo de Vide, o exímio clarinetista, Francisco de Jesus. Da Euterpe vieram dois elementos importantes, uma tuba e um bombardino, Ricardo Lopes e Lino Faca, respetivamente. O primeiro tem tocado várias vezes connosco no último ano e apesar da Filarmónica do Crato ter vários elementos a tocar tuba, convidou desde logo este elemento a seguir viagem. Do Crato não puderam seguir vários músicos, alguns estratégicos, como Ana Rei (flauta), Rafael Vivas (bombardino), Daniela Batista (clarinete), Cátia Ribeiro (saxofone) e Carlos Alberto Girão (percussão), entre outros. Acompanhou a sua banda natal o músico João José Costa (trombone), que espalhou qualidade por terras açorianas e ajudou a engrandecer a sua banda.

No próximo ano será a vez de o Crato retribuir à Ribeirinha aquilo que nos fizeram e estamos certos que os alentejanos também vão ser capazes de proporcionar dias de cultura, amizade e muita música aos nossos amigos açorianos.

Esperamos vir a contar com o apoio da nossa Câmara e demais autarquias de freguesia. Para este intercâmbio a Filarmónica do Crato contou com a oferta de 100 polos e 50 bonés por parte da União de Freguesias e o município apoiou com a cedência de um autocarro e uma carrinha de Crato para Lisboa e vice-versa.

 

 

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