Passados que são praticamente 32 anos do longínquo verão de 1983, a Filarmónica do Crato voltou a tocar na bela cidade do Porto. A atuação ocorreu no dia 1 de maio integrada nas comemorações nacionais do Dia do Trabalhador, da responsabilidade da UGT – União Geral dos Trabalhadores e teve lugar no Palácio de Cristal ou Pavilhão Rosa Mota. A banda, com 46 músicos (e ainda ficaram muitos pelo Crato, às vezes sem razão justificável), proporcionou ao muito público presente um concerto de elevada qualidade demonstrando aos sindicalistas e ao restante público que o Alentejo e o interior do país ainda possuem agrupamentos de qualidade.
A Filarmónica do Crato atuou pela primeira vez na cidade invicta (muito na moda) num concurso nacional de bandas civis promovido pela RTP, que passava aos sábados à hora de almoço, apresentado à data (1983) pelo saudoso Fernando Pessa, em direto. Nessa época, a banda era considerada a melhor do distrito de Portalegre e classificou-se em 9º lugar. Da atual banda, restam apenas 4 elementos desse tempo.
A deslocação ao Porto foi obra do Presidente do município do Crato, Dr. José Correia da Luz, que possui excelentes relações com a direção nacional da UGT por força de no Crato estar estabelecido um dos polos da Escola Profissional Agostinho Roseta, pertença da UGT. E refira-se que entre o público mais entusiasta no concerto do dia 1 de maio, que teve lugar às 13 horas num belo palco no citado pavilhão, encontravam-se os alunos da escola profissional do Crato pertencentes à excelente Tuna “Agostinhos da Roseta”, que viriam a atuar durante a tarde. Refira-se ainda que compareceram ao concerto vários cratenses da diáspora do norte, em concreto do Porto e Matosinhos, entre outras localidades.
Pela tarde, a Filarmónica era para ter abrilhantado um concerto em Gaia, junto ao cais das mais prestigiadas empresas de vinho do Porto. No entanto, a chuva que caiu ininterruptamente todo o dia no noroeste de Portugal e em particular no Porto, impediu que tal viesse a acontecer.
O mau tempo não impediu que o município de Gaia recebesse da melhor forma a comitiva de cerca de 60 pessoas proporcionando a todos raros momentos de cultura e convívio. Assim sendo, fomos recebidos ao mais alto nível na bela igreja desativada intitulada de “Corpus Christi”, ali mesmo ao lado das principais caves dos famosos vinhos. O principal anfitrião foi nada mais nada menos que o vereador do pelouro da cultura, o Dr. Delfim de Sousa (filósofo), que ainda tem uma costela bejense e que deleitou todo o grupo pela sua enorme empatia e conhecimento dos monumentos da terceira cidade mais populosa do país (a seguir a Lisboa e Sintra). Esta igreja surpreendeu pela beleza do 1º piso, com mais de 50 quadros alusivos a outros tantos santos católicos tratando-se de um monumento só comparável com outro de Madrid. Houve ainda lugar a um Porto de Honra oferecido pelo município gaiense, com quem o Presidente Correia da Luz entrara em contacto antecipadamente de forma a poder “oferecer” uma jornada de descontração a toda a comitiva da Filarmónica do Crato.
E antes do jantar oferecido pela Câmara de Gaia numa das suas cantinas, o vereador e o seu grupo de colaboradores, levaram o grupo até à Casa Museu Teixeira Lopes que deixou todos inebriados com tamanha qualidade, tanto do imóvel como das esculturas e pinturas, bem como da eloquência do orador/guia, agora vereador, mas que passou 12 anos a dirigir o citado museu. Vale muito a pena ir a Vila Nova de Gaia e percorrer a Casa Museu com devido tempo e atenção à tamanha qualidade de tudo o que está guardado no imóvel deixado ao município gaiense pelo seu dono, que foi um ilustre escultor português autor de muitas das mais famosas esculturas do nosso país. Nesta visita, marcou ainda presença o presidente Correia da Luz. Numa das principais salas da Casa Museu, a comitiva teve oportunidade de assistir a um belo momento musical interpretado pelo músico Miguel Baptista, que no clarinete interpretou um excerto da conhecida Serenata de Schubert (o mesmo pode ser visto no facebook da Filarmónica do Crato).
Após o belo jantar, a comitiva seguiu para norte, até Fão (Esposende), sempre debaixo de chuva, onde pernoitou na bela Pousada da Juventude “Foz do Cávado”, já conhecida de muitos elementos visto que já por lá pernoitaram aquando de dois passeios da Banda. A noite correu bem e o grupo partiu cedo para o Porto onde nos aguardava um belo passeio de barco pelas pontes do Douro, oferecido pelo município de Gaia.
Passado o passeio, que deixou todos maravilhados, houve ainda tempo para idas às caves, à pista de gelo, ao teleférico e ao centro do Porto a que se seguiu um belo almoço oferecido pela Banda num belo restaurante de beira-rio, em Gaia. A meio da tarde de sábado, 2 de maio, foi a vez de nos despedirmos das belas Gaia e Porto.
Mas o passeio não se ficou por aqui. O grupo de músicos e acompanhantes haveria de se maravilhar mais um pouco com uma “deliciosa” paragem na “Veneza de Portugal” – Aveiro. Nesta bela cidade da foz do Vouga, muitos puderam ver pela primeira vez na vida os belos moliceiros que transportavam dezenas e dezenas de turistas pelos canais da cidade. Também não faltou quem provasse os famosos ovos-moles e trouxesse alguns de recordação até porque no dia seguinte era Dia da Mãe.
Enfim, foi mais uma jornada memorável e outra bela página da já longínqua história da Filarmónica do Crato. Pode afirmar-se que esta atuação (e passeio) foi das melhores de sempre da história mais recente da Banda. Inclusivamente, muitos jovens músicos afirmaram que se tratou da melhor deslocação da banda em que participaram. Há que concordar com os jovens, apenas nos recordamos de duas saídas mais inolvidáveis do que a presente deslocação ao Porto e Gaia e essas nem foram no território continental português. Uma foi aos Açores (Pico, em 2004) e a outra foi a França (Ardenas, 1994).
Uma última palavra tem de ir necessariamente para a Presidência do nosso município, na pessoa do Dr. Correia da Luz, sem esquecer a brilhante receção em Gaia, a Direção da UGT e, finalmente, o belo trabalho desenvolvido pela Direção da Banda nos preparativos de tão trabalhosa jornada de enriquecimento e crescimento da Banda. Para quem não quis ir, que fosse! Nem sabem o que perderam e a banda não deu pela falta de ninguém!
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