Uma das últimas descobertas do Professor Miguel Baptista nas atas da Câmara Municipal do Crato existentes no Arquivo Municipal refere a “Muzica”. Trata-se do primeiro registo sobre a atuação da banda de música no Crato e data de 1848. Como é sabido, a data que hoje é oficial para a fundação da Filarmónica do Crato ou melhor, para a primeira banda de música existente no Crato, remonta a 1844 devido à descoberta numa ata da Santa Casa da Misericórdia do Crato onde o Administrador do Concelho, José da Gama Caldeira Castel Branco, solicitava a cedência da ala masculina do extinto hospital do Crato (onde hoje ainda é o serviço de Finanças) para os ensaios da Sociedade Armonica, antepassada da atual Filarmónica do Crato. Passados 4 anos relativamente a 1844, ano do primeiro registo de existência, surge o primeiro onde podemos verificar que a tal Sociedade Armonica já atuava e fazia parte da vida normal da vila do Crato. Assim, a citada “Muzica” atuou na procissão de Corpo de Deus, em junho de 1848. Eis aqui algumas citações retiradas da documentação:
– “Nesta se deliberou nomear para levar o Palio na próxima procissão de Corpo de Deos os seguintes indeviduos Domingos Cordeiro Carrilho Saraiva do Amaral, Domingos Cordeiro Junior, António Pereira Xavier, João de Mattos Raymundo, José de Mattos Raymundo, João Venceslao Ferreira d’Abreu. Para levar o estandarte da Câmara José Mathias Relvas. Mais se deliberou que se anunciase por via de pregão, que todos os almocreves (os almocreves eram pessoas que conduziam animais de carga e/ou mercadorias de uma terra para outra em Portugal, durante a Idade Média e até tempos bem recentes – meados do século XX) devem ir buscar Bunho (junco da ribeira) para juncar o transito da Procissão, e bem assim que devem comparecer à mesma Procissão todos os oficiais de officio com sua respetiva bandeira sob pena de serem multados na forma das Posturas. Mais se avizasse o rendeiro da villa para fazer limpar as ruas do transito da Procissão. E finalmente mais se deliberou convocar a Muzica para acompanhar a Camara na dita Procissão (pág 111, sessão nº18).
Na reunião seguinte, em 22/06/1848 e após o Corpo de Deus surge mais uma excelente alocução à Banda de Música e aos seus executantes. Ora vejamos:
“Nesta se deliberou pagar huma gratificação de 0$480 (quatrocentos e oitenta réis) a cada hum dos Muzicos que assistirão a Procissão de Corpo de Deos, e 0$300 (trezentos réis) a cada hum dos dois de pancada” (será da bateria ou percussão, na altura considerada de menor importância e que até aos finais do século XX era ocupada por indivíduos que não sabiam, regra geral, ler música ou por aqueles que não tinham habilidade para aprender a tocar os instrumentos de sopro) – pág. 111, verso, sessão 19.
(foto do documento sobre a convocatória da Muzica para a Procissão de Corpo de Deos de 1848)
(foto do documento onde se delibera o pagamento aos músicos da procissão de Corpo de Deos)
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